A possível cassação de Eduardo Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal está se tornando um dos maiores abalos recentes na estrutura do bolsonarismo no Congresso Nacional. O deputado federal licenciado, alvo de inquérito que investiga possíveis crimes contra a soberania nacional, pode perder o mandato e até ser preso, o que tem potencial para enfraquecer significativamente a influência da família Bolsonaro na política brasileira. A crise de Eduardo Bolsonaro pode, portanto, representar uma nova fase para a extrema direita, que se verá obrigada a buscar novos líderes para ocupar o vácuo de poder deixado por ele.
A crise de Eduardo Bolsonaro é ainda mais grave porque ele permanece nos Estados Unidos desde março, justamente quando surgiram as primeiras acusações de articulação internacional contra o ministro Alexandre de Moraes. A ausência prolongada e as movimentações fora do país têm sido interpretadas por analistas como uma tentativa de evitar enfrentamentos diretos com o Judiciário brasileiro. Caso Eduardo Bolsonaro não retorne ao Brasil até julho, a crise pode se aprofundar com a abertura de processo de cassação por abandono de mandato.
O enfraquecimento político causado pela crise de Eduardo Bolsonaro já é evidente entre os aliados da direita mais radical. Com o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível e agora com Eduardo Bolsonaro ameaçado judicialmente, a base bolsonarista no Congresso corre o risco de perder dois de seus maiores articuladores. Especialistas apontam que essa lacuna poderá comprometer a capacidade de articulação eleitoral do grupo, abrindo espaço para outras forças da direita disputarem essa liderança que hoje gira em torno da figura da família Bolsonaro.
Mesmo com a crise de Eduardo Bolsonaro, é provável que a extrema direita brasileira busque renovar suas figuras de liderança. No entanto, nenhum novo nome carrega o peso simbólico e a herança política direta do sobrenome Bolsonaro. A perda desse capital simbólico pode reduzir o apelo eleitoral do bolsonarismo e diminuir a presença de seus quadros mais radicais em futuras disputas majoritárias. O distanciamento do nome Bolsonaro da política pode ser o primeiro passo para uma reformulação ideológica mais ampla no campo da direita.
A crise de Eduardo Bolsonaro também escancara a fragilidade do discurso de perseguição política tão utilizado por seus aliados. A narrativa de que o deputado seria vítima de perseguição do sistema judicial pode até mobilizar setores mais radicais, mas dificilmente conseguirá sensibilizar o eleitorado mais moderado. O uso recorrente desse discurso tende a perder força diante das evidências de práticas que colocam em risco a soberania do país, especialmente quando articuladas com governos estrangeiros, como no caso da tentativa de sanções contra autoridades brasileiras.
O impacto da crise de Eduardo Bolsonaro nas eleições de 2026 pode ser significativo. Com Jair Bolsonaro inelegível e seu filho mais influente ameaçado de cassação, o clã político pode se ver fora das principais articulações do pleito. Caso Eduardo Bolsonaro permaneça nos Estados Unidos e não retorne a tempo, a crise se converterá em ausência eleitoral concreta, prejudicando diretamente a construção de chapas competitivas com apoio explícito da família. A extrema direita pode até se reorganizar, mas dificilmente manterá o mesmo grau de coesão ideológica.
Outro ponto sensível causado pela crise de Eduardo Bolsonaro é a reação institucional que ela pode provocar dentro do Congresso. O pedido de cassação e de prisão preventiva já foi anunciado por parlamentares da oposição, o que deve intensificar os embates internos. O Conselho de Ética será palco de uma batalha jurídica e política que terá forte repercussão midiática e pode dividir ainda mais a já polarizada cena política brasileira. A crise de Eduardo Bolsonaro tende, portanto, a reverberar para além das esferas do STF.
Por fim, a crise de Eduardo Bolsonaro simboliza o desgaste de um projeto político que chegou ao poder com força em 2018 e que desde então enfrenta crescente contestação institucional. O bolsonarismo pode até sobreviver, mas perderá parte de sua identidade com a queda de Eduardo. A sucessão natural da extrema direita dependerá da capacidade de surgir novas lideranças com legitimidade, carisma e base social. Por ora, o cenário mostra que a crise de Eduardo Bolsonaro pode ter consequências duradouras.
Autor: Zunnae Ferreira